sexta-feira, janeiro 16, 2009

Directo à Questão
A Guerra em Gaza: Haverá razões para acreditar na Paz no Médio Oriente?

Em 1947, na sede da Organização das Nações Unidas é aprovado um plano de partilha da Palestina em dois estados: um judaico, com um milhão de habitantes, 510 mil dos quais árabes; e um árabe, com 814 mil habitantes, 10 mil dos quais judeus. Jerusalém, cidade santa para três religiões, ficaria com estatuto de cidade internacional.
Um ano depois, a 15 de Maio de 1948, o Estado de Israel é proclamado por David Ben Gurion. No entanto, Israel nasce com fronteiras largamente superiores às aprovadas pela ONU. Era o início do fim para o Estado Palestiniano.
Em 1949, a ONU aprova a Resolução 194, que decide permitir aos refugiados que o desejem o regresso às suas casas, com direito a compensações pela destruição dos seus bens. Contudo, David Ben Gurion, então primeiro-ministro de Israel, decidiu impedir o regresso dos refugiados palestinianos. Actualmente são mais de três milhões.
Na sequência da Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupa o resto da Palestina, onde se incluem a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém-Leste. Ao arrepio da Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, nesse mesmo Verão, a colonização dos territórios ocupados tem início, com a construção de novos colonatos. Actualmente existem mais de 200 mil colonos instalados em colonatos nos territórios então ocupados.
Mais recentemente, em 2005, Ariel Sharon ordenou a retirada unilateral do exército e dos colonos da Faixa de Gaza, mas a ocupação do território, sem interesse estratégico ou religioso para o Estado judaico, nunca terminou completamente. Israel continua a controlar todos os acessos por terra, mar e ar a este pedaço da Palestina: 362 quilómetros quadrados habitados por 1,5 milhões de pessoas. Foi neste território, o mais densamente povoado do mundo, que nasceu o Hamas e eclodiu a primeira Intifada.
Nos últimos sete anos, o lançamento de mísseis e morteiros por parte do Hamas sobre cidades israelitas matou pelo menos 20 civis. Israel retaliou sujeitando a Faixa de Gaza a um duro bloqueio económico, com restrição de entrada de alimentos e medicamentos e cortes de combustível, agravando uma situação humanitária que o Banco Mundial e Organizações Não Governamentais descreveram como "catastrófica". A 4 de Novembro de 2008, Israel assassinou seis membros do Hamas, violando uma trégua, que estabeleceu com o movimento islâmico, sob mediação egípcia, a 17 de Junho do último ano. Era o início de uma violenta tentativa de eliminação do Hamas por parte de Israel, depois da tentativa fracassada de neutralização do Hezbollah no Lí­bano, em 2006.
Teme-se, agora, o pior cenário, que passaria pela eventual abertura de uma segunda frente de guerra por parte do Hezbollah no Líbano, apoiado pela Sí­ria e financiado pelo Irão. O movimento xiita terá cerca de 40 mil mísseis e provou, em 2006, que sabe resistir ao reputadamente mais poderoso exército do Médio Oriente. Outro receio é o da eclosão de uma revolta popular na Cisjordânia, onde Mahmoud Abbas tem sido incapaz de obter significativas concessões por parte de Israel: os colonatos continuam a expandir-se, as incursões militares prosseguem, os checkpoints não são desmantelados e seis milhares de prisioneiros permanecem nas cadeias.
A raiz do conflito em Gaza é, portanto, bem clara. Na minha opinião, também a solução para o conflito é bem clara. Apenas o desmantelamento de todo o sistema de colonatos israelitas e a retirada do exército de Israel para as posições anteriores às ocupações de 1967 poderá por cobro ao conflito, permitindo o reconhecimento do direito do povo palestiniano à edificação do seu Estado, livre, independente e viável, com capital em Jerusalém-Leste, lado a lado com Israel.
No entanto, esta solução, apesar de ideal, está muito longe de ser concretizada no terreno. Dos dois lados, israelita e palestiniano, há quem a procure destruir e inviabilizar. Porque há demasiados interesses em jogo. Os de sempre. Os que motivam todas as Guerras. Falta saber se ainda há esperança no entendimento, se ainda há razões para acreditar na Paz no Médio Oriente.

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