segunda-feira, julho 09, 2012


Sobre a Crise...

Na pequena aldeia de Megacnavala, com apenas algumas dezenas de habitantes, há décadas que o café do Sr. Mora é a principal referência da economia local. Outrora, ainda taberna, o café do Sr. Mora servia essencialmente  vinho a copo, vindo diretamente das pipas que as abundantes vinhas de Megacnavala todos os anos enchiam. Agora, os hábitos são bem diferentes, a cerveja, os refrigerantes e o café tomaram conta das preferências da clientela, e o vinho a copo é guardado apenas para alguns anciãos. Mas, não foram apenas as preferências dos clientes que mudaram, a inóspita taberna fora “promovida” a café há alguns anos quando o Sr. Mora investira na reformulação da infra estrutura. Mesas, cadeiras e balcão novo, ecrã LCD de dimensões apreciáveis, ar condicionado para proporcionar um ambiente mais agradável no verão, já para não falar na esplanada à qual não faltavam os guarda sois. O investimento ainda foi grande e as poupanças do Sr. Mora não foram suficientes.....

Felizmente, com a recomendação do Presidente da Junta, algumas famílias mais abastadas da aldeia financiaram a progressiva remodelação da taberna, primeiro a família Tostão, depois a família Pessoa, e mais recentemente, aquando da instalação do ar condicionado e do LCD, o Sr. Franklin, norte-americano casado com uma jovem da aldeia que emigrara há alguns anos para os Estados Unidos.

A população acompanhou e apreciou a evolução de taberna a café e como esperado, as receitas geradas pelo café do Sr. Mora aumentaram. Maiores margens na cerveja e refrigerantes, do que no vinho, bem como o maior consumo, premeiam o investimento do Sr. Mora, para orgulho do Presidente da Junta de Megacnavala. Os “investidores”, das famílias Tostão e Pessoa, ao Sr. Franklin, foram recebendo sempre os juros acordados com o Sr. Mora atempadamente e de acordo com o combinado.

Dado o clima de confiança que reinava na aldeia, com o alto patrocínio do Presidente da Junta, a família Tostão, primeiro “investidor” no café do Sr. Mora, aceitou há algum tempo renovar a dívida a pedido do Sr. Mora, acrescentando ainda algum capital adicional a uma taxa de juro mais baixa que a anterior para financiar a aquisição de um equipamento para tirar bebidas de pressão e um painel luminoso para o exterior do café. O mesmo se passou com a Família Pessoa para substituir o ar condicionado que havia recentemente avariado, e ao Sr. Franklin pediu o Sr. Mora o mesmo, mas para ajudar a pagar a fornecedores.

Na realidade, a população da aldeia continuava a ser de apenas algumas dezenas de habitantes, e ainda que o consumo tenha aumentado desde os tempos da taberna, alguns dos habitués como o Manuel ou o Pedro, há alguns meses que se tornaram menos assíduos, e os custos de manutenção do café incomparavelmente superiores aos da taberna. O Presidente da Junta, que em miúdo foi dos poucos da aldeia que fez a 4º Classe (de antigamente) logo à primeira, facto que o catapultou para o mais alto cargo político de Megacnavala, dizia ao dono do café: “Ó Mora, assim não dá pá, então não se está mesmo a ver? Só em eletricidade deves pagar para cima de uma fortuna, mais a mais aos preços a que ela está. Se calhar tens que desligar o ar condicionado e o painel luminoso à noite, senão....”

Como o meio é pequeno e o Presidente da Junta falador, ficaram também os “investidores” rapidamente a saber que o negócio do Sr. Mora não evoluía tão bem como todos tinham perspetivado. Logo por azar, tem o Sr. Mora ainda este ano que pagar tudo o que deve à família Tostão e metade à família Pessoa. Ao Sr. Franklin, nada este ano, mas tudo no início do próximo. 
(continua)

Elenco
Estado membro da zona Euro com excesso de dívida, no papel de Sr. Mora
Agência de rating, no papel de Presidente da junta
Investidores nacionais, no papel das  Famílias Tostão e Pessoa
Investidor estrangeiro, no papel de Sr. Franklin
Desempregados, no papel de Manuel e Pedro


[In ActivoBank]

segunda-feira, abril 30, 2012


Carpe Diem




Guimarães Com Vida a Fazer Parte

A cidade berço transpira vanguardismo. Revela-se ao mundo enquanto cidade cosmopolita que em nada envergonha um Portugal que continua a mostrar que é capaz. Só pela forma como está limpa e arrumada vale a pena visitar a cidade que este ano assume o título de Capital Europeia da Cultura. Mas vale ainda e sobretudo por tudo o resto – pela história que emana de cada recanto cuidado da cidade, pela forma como os eventos culturais se integram nesses lugares indelevelmente ligados à nossa história, pela forma como a população está envolvida de alma e coração (e paixão) nesta iniciativa. Ou não fosse um coração o seu símbolo maior. Guimarães está de parabéns. A organização está de parabéns. Pela forma como soube aproximar uma população que parecia perdida e arredada de um projecto que é seu, que é nosso. Fazemos todos parte.

Exemplo desta bem sucedida comunhão entre a Capital Europeia da Cultura e a comunidade vimaranense (e, porque não dize-lo, portuguesa) foi a experiência de pop sinfónico proporcionada na noite do passado dia 28 de Abril pelos Expensive Soul e a Fundação Orquestra Estúdio, da qual tive o privilégio de fazer parte. Já não bastava a singularidade musical dos Expensive Soul. Já não bastava a multiculturalidade dos jovens músicos que compõem a Fundação Orquestra Estúdio. Já não bastava a presença em palco de um heterogéneo coro de duzentos habitantes de Guimarães escolhidos a dedo num casting que ficará para a história. Já não bastava o estilo inconfundível do Maestro Rui Massena. Já não bastavam os toques dos velhos Nicolinos que se juntaram ao final de festa. O resultado da fusão em palco de todas estas particulares sonoridades foi um espectáculo memorável e a prova de que Guimarães 2012 merece todo o nosso aplauso. A cidade berço transpira vida.

terça-feira, abril 24, 2012

Lusa Atenas... Sempre



sexta-feira, março 23, 2012

Carpe Diem


Uma foto da "Pensão Amor", do Cais do Sodré, com a legenda "o outrora bordel renasceu como um espaço de arte com um bar bordelo-chic", ilustra o artigo que tem hoje grande destaque no site da BBC.

A "Pensão Amor" é altamente recomendável, há nela algo de exótico e de surpreendente, difícil de descrever por palavras. Obrigatório visitar. E experienciar na primeira pessoa.

O citado artigo pode ser visto aqui.

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Delicioso

It´s a outlier!

Esta Freud não explicou.

O desejo de um homem
é dito com um conjunto abreviado de variáveis,
seja o anjo azul de dietrich,
a conchita bivalve de bunuel,
a volúpia de bardot, welch,
o preceito é quase unidimensional,
é carne, é sangue, com maior ou menor sublimação.

A mulher deseja que a desejem,
base de narciso, não especificamente relacional,
constante mais ou menos insondável
ao longo do caminho.

Uma bufa inoportuna, uma meia branca,
e tudo volve de novo a uma coloração indiferente.
Arruina-se a gramática desejante.

É o que conta, afinal.

Simpaticamente roubado daqui.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Do Arco da Velha

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Palavras


‎" É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados. "


Miguel Torga