quarta-feira, agosto 02, 2006

As Primeiras Heurísticas de João Vasco Pereira Coelho

Não consegui resistir em partilhar convosco um excerto de um dos posts mais deliciosos do blogue “Starjamming”, que podeis encontrar em versão integral no respectivo link aqui ao lado. É impossível ficar indiferente às Palavras de Cotrim…

«Em incerto dia, era eu um recém-chegado à idade de menino-Homem, deparei-me com formulações nunca dantes vistas. O tema era exótico, e, portanto, apetecível - a encenação cultural das relações de sexualidade. O verbo afigurava-se, contudo, impenetrável.Com o fluir do tempo, e o entusiasmo próprio de quem é recém-chegado a parte, até então, incerta, a leitura, inicialmente tortuosa, tornou-se uma mui apetecível fruição de final de noite.Percebi então: estava perante as minhas primeiras heurísticas. Reproduzo-as abaixo, com a alegria de quem partilha:
"A sexualidade tem sido objecto, em termos históricos, de uma tripla repressão: a proibição, a condenação ao silêncio, e a eliminação do campo das visibilidades";
"O corpo funciona como lugar de categorização social";
"O acto sexual erotizado representa a experiência da experiência intrapsíquica do outro, a experiência da intenção do outro";
"A heterossexualidade conjugal orientada para a reprodução e centrada na genitalidade é uma construção histórico-social";
"O amor é uma ficção pessoal da intimidade e uma construção social da afectividade e das emoções";
"O corpo é um objecto social. É, por excelência, um objecto de troca e de consumo. Nos termos de Jean Baudrillard, é o mais belo objecto de consumo";
"O amor passional: antecipação fantasiada de gratificações ilimitadas, conjunto heteróclito de emoções positivas e negativas, carácter efémero e vulnerável, idealização de se ser amado";
"A existência de sexos diferentes implica uma selecção evolutiva no sentido da anisogamia, de uma distribuição bimodal dos gâmetas; os machos, detentores de matéria germinal potencialmente ilimitada, teriam o interesse em adoptar uma estratégia poligâmica, fecundando o maior número possível de fêmeas";
"A conjugação amor/sexo é uma das possíveis soluções sócio-culturais para o problema da articulação entre reprodução biológica e vinculação social";
"O amor romântico constitui um casoexemplar de construção social de emoções";
"A emoção deve ser compreendida enquanto papel social transitório".
Como refere Sophia, a partir de então, a minha solidão viu-se melhor.
(Nota: As formulações apresentadas são parte integrante da dissertação de doutoramento de Valentim Rodrigues Alferes, Encenações e Comportamentos Sexuais, tornada pública pelas sempre credíveis Edições Afrontamento).»

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