sexta-feira, agosto 10, 2007

Carpe Diem

Quando falamos de uma vida cheia há datas que funcionam como verdadeiros marcos da nossa existência. Que nos ajudam a reviver e a perceber melhor o passado. Que nos dão um novo ânimo e uma nova perspectiva para o futuro. Se o dia 29 de Abril de 2007 é uma data verdadeiramente marcante da minha vida pelas razões evidentes, outra é, seguramente, o dia 19 de Outubro de 1998.

19 de Outubro de 1998 é a data que marca a minha entrada na Universidade. Corresponde ao meu primeiro dia de aulas em Coimbra e simboliza a mais importante viragem na minha vida. Foi neste dia que vi pela primeira vez algumas das pessoas que hoje guardo com maior carinho e que marcam presença assídua no meu dia-a-dia actual. A definitiva abertura ao mundo, concretizada pelo deixar do Figueiredo para trás e pela partida à descoberta de pessoas, lugares, contextos, enfim… vidas… mais próximas do meu modus vivendi, mais ligadas ao meu ser e estar, mais minhas. Nada mais do que o meu libertar do casulo em busca do verdadeiro futuro. Que sentia ser o meu. Cresci muito desde então. Porque tive a sorte de encontrar naquela Cidade, naquela Faculdade, naquele grupo de amigos, as pessoas certas no momento certo.

As palavras dizem tudo. É por isso que a melhor forma de perceber a importância daquele dia é a transcrição de alguns excertos das folhas de uma espécie de “diário de bordo” que escrevi naquele dia.

“(…) Lá me puseram ao pescoço a cartolina com o número 137 e fui para dentro do anfiteatro aturar os habituais discursos dos presidentes daquelas associações todas malucas. Puseram-me logo nas mãos um teste diagnóstico de oito folhas para preencher em meia hora. Lá fora, já estavam os preparativos para a tragédia. Inevitavelmente, lá tive de fazer uma declaração de amor (com humor) à Senhora Doutora, fazer de porteiro dos Claustros e gritar a chegada de cada Doutora, cantar umas versões (muito, mas muito) radicais das músicas ditas pimba e, mal descobriram que tinha boa voz, proclamaram-me «Cornetim» e puseram-me logo a cantar a solo. (…) A cantar e a pular lá fizemos figura de parvos a dizer palavrões desde os jardins da AAC até à Faculdade, onde vivi uma tarde memorável (principalmente para a minha garganta!). O desgraçado do «Vermelhão» - que raio de apelido de praxe! Vá-se lá saber porquê Vermelhão! – lá teve de gritar os 250 nomes de caloiros (um por um), passar a rastejar por debaixo de dezenas de capas doutoradas e a cantar (ou será gritar?) as entradas da tourada. Tive de chamar os touros, os cavalos, os forcados e o João Baião de um “Big Show Caloiro” em que fiz de Quim Barreiros e cantei uma bacalhoada. (…) Nessa noite, foi o meu primeiro encontro, a primeira piscadela de olho à noite académica Coimbrã. Para bem da minha saúde psicológica, não vou aqui escrever o que vi, nem o que bebi, muito menos por onde andei no meu primeiro e importante contacto com as noitadas da Lusa Atenas. (…) De regresso a «casa», vi-me a ter de dormir ao relento ao encontrar a porta da rua fechada. Um segredo que há na porta (que, obviamente, não vou contar) e que tive de perguntar da rua à D. Marina, salvou-me de passar a primeira noite fora de casa. (…) Felizmente, adormeci num ápice, só acordado pela chegada do meu companheiro de quarto. Uma surpresa: o tal alentejano, de nome Hugo, mais não era do que um dos Doutores que me praxara, um dos colegas da minha Faculdade. Chegou com a «garina» e, como viu que eu estava acordado, apenas balbuciou, como quem não quer a coisa, «Ó caloiro, eu não tenho aqui comigo nenhuma rapariga, pois não?», a que se seguiu a minha suavemente embriagada resposta: “Não. Claro que não!” Na manhã seguinte, o Hugo veio certificar-se de que não tinha sido tudo fruto da sua imaginação e que eu era, de facto, o tenor «Vermelhão»”.

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