quinta-feira, novembro 27, 2008

Directo à Questão

Menos Filhos e Mais Tarde: Uma reflexão sobre os números da natalidade em Portugal

Os jovens portugueses são cada vez menos, casam mais tarde e têm menos filhos, e ainda em idades mais tardias. Cerca de metade das crianças que nascem anualmente no nosso país têm mães com mais de 30 anos. Os números oficiais demonstram que as mulheres portuguesas estão a optar por ter as crianças mais tarde e depois de prestarem provas no campo profissional. E revelam ainda que o tão apregoado "relógio biológico" tem uma carga horária muito ampla, nem que para isso seja necessário recorrer à ajuda da medicina.
Simultaneamente, é possível constatar um significativo decréscimo de natalidade nas idades mais jovens, atingindo valores claramente abaixo dos 10% nos grupos etários entre os 20 e 24 anos e entre os 25 e os 29 anos.
No entanto, independentemente da faixa etária das mães, os números globais da natalidade em Portugal continuam particularmente baixos. Segundo o Instituto Nacional de Estatística nascem pouco mais de 100 mil crianças por ano, valores que se aproximam dos registados em meados da década de noventa. E são as mulheres com mais de 30 anos que impedem que o índice de fecundidade seja ainda mais baixo do que os actuais 1.4, o número de filhos por mulher em idade fértil.
Não obstante estarmos perante um modelo sócio-demográfico caracterizado por uma nupcialidade cada vez mais tardia, o casamento continua, efectivamente, a constituir a solução de conjugalidade mais frequente entre jovens portugueses, realça o relatório «Jovens em Portugal», uma análise do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa através de dados estatísticos desde 1960.
Os jovens portugueses permanecem actualmente mais tempo na escola e entram mais tarde no mercado de trabalho do que há 30 anos, prolongando o período em que dependem economicamente da família de origem, refere o referido relatório «Jovens em Portugal». Nos últimos 30 anos, o analfabetismo juvenil foi praticamente erradicado e a frequência dos níveis mais elevados de ensino dobrou de década para década, verificando-se um alargamento progressivo da idade média de permanência na escola.
Num passado não muito longínquo, ter filhos tardios era algo criticado socialmente e que decorria, muitas vezes, da falta informação das mulheres, coincidindo com a fase de pré-menopausa. Actualmente, as gravidezes tardias chegam mesmo a ser incentivadas, constituindo uma opção de mulheres com capital profissional e educacional. O maior investimento das mulheres no mercado de trabalho e as ainda prementes dificuldades em conseguir uma ampla conciliação entre o trabalho e a família parecem contribuir decisivamente para os números em análise. No entanto, a crise económica e financeira que o mundo atravessa só vem agudizar ainda mais as dificuldades dos casais portugueses, contribuindo para esta tendência de diminuição do número de filhos.
Todas estas modificações de âmbito mais macro, obrigam a novas respostas que possibilitem a transformação do problema dos números da natalidade em Portugal num aliciante desafio. Trata-se de uma necessária adequação a uma realidade que evolui constantementeem função de dinâmicas demográficas e socio-económicas, de alterações de política social e do desenvolvimento global.

Reflexão também publicada aqui.

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