segunda-feira, setembro 22, 2008

Directo à Questão

Um bebé “activo” é um bebé “hiperactivo”?


Choro, birras sistemáticas, dificuldade em acalmar e recusa em comer e dormir são características dos bebés irritáveis que levam muitos pais e crianças às urgências hospitalares. Habitualmente, os pais falam de cólicas, mas muito recentemente, com a vulgarização do termo, é comum ouvirmos os pais falarem em “hiperactividade” dos bebés. Mas afinal, as cólicas serão desculpa para tudo? Será que um bebé de meses pode ser “hiperactivo”? E o que será melhor: uma criança rabujenta e agitada ou um bebé calmo e dorminhoco?
Uma coisa é um bebé que chora com regularidade mas consegue manter longos períodos de sono, outra coisa é uma criança que tem dificuldade em acalmar e organizar os ritmos de sono e alimentares. Será que podemos falar em hiperactividade nestes casos?
Parece-nos que a velha máxima de que cada caso é um caso se adapta perfeitamente ao ponto em discussão. Não há diagnósticos-chapéu, ou seja, não existe uma regra. No entanto, sabemos que os bebés são crianças muito sofisticadas que comunicam sistematicamente com a realidade envolvente.
Segundo o Manual Internacional de Diagnóstico das Perturbações Mentais - DSM-IV -, a Hiperactividade é um distúrbio caracterizado por um “padrão persistente de falta de atenção e impulsividade, com uma intensidade mais frequente e grave que o observado habitualmente nos sujeitos com um nível semelhante de desenvolvimento”. Estamos, pois, perante uma doença com critérios de diagnóstico bem definidos, que não se reduzem à agitação psicomotora e irritabilidade. É um distúrbio com alguma prevalência em idade escolar, mas nunca numa fase de desenvolvimento infantil.
Nestas idades, mais do que em hiperactividade, devemos antes falar em depressão, no sentido em que os sintomas comportamentais do bebé não são mais do que uma manifestação do verdadeiro problema da criança: a fraca reacção ou a reacção desadequada a estímulos no meio.
Pedopsiquiatras portugueses têm investigado a influência da depressão materna no comportamento e desenvolvimento emocional das crianças nos primeiros anos de vida, uma vez já ter sido comprovado que o estado emocional das mães pode afectar o bebé. Como referimos, os bebés estão em constante comunicação com a realidade envolvente. Uma gravidez de alto risco implica uma menor taxa de solicitações do meio. Logo, um bebé filho de uma mãe deprimida tem mais probabilidades de desenvolver um problema de atraso de crescimento intra-uterino. Esta criança, uma vez cá fora, longe do conforto do útero materno, vai reagir naturalmente menos aos estímulos da ernvolvente.
Em contrapartida, numa gravidez normal, o bebé, quando vem cá para fora, retoma um conjunto de ligações que lhe permite tranformar-se numa criança calma mas comunicativa, serena mas proactiva, porque já teve um pouco de tudo isso na barriga da mãe. É por isso que as mães grávidas não devem privar-se de emoções. É por isso que a comunicação é de extrema importância durante a gravidez.
Segundo o Professor Eduardo Sá, os bebés que mais preocupam os especialistas em Psicologia Infantil são os que nos berçários nunca dão problemas: “sempre caladinhos, nunca choram quando têm fome, é um pouco «estou mal, mas deixem-me estar», reagem pouco aos estímulos, dormem muito e adequam-se a todas as atitudes dos pais”. Para Eduardo Sá, “estes bebés já estão tão deprimidos que nem têm força para reagir com raiva. Os bebés não são anjos, reagem, choram... esses são os bebés saudáveis”.
Temos pois que deve ser muito mais preocupante para um pai um bebé que não chora, não ri, não tem birras, tem ritmos de sono desorganizados ou então está sempre a dormir, do que um bebé que chora, mexe, ri e faz birras. É a sua reacção natural aos estímulos do meio. É a sua forma de comunicar com o exterior.

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