quinta-feira, janeiro 03, 2008

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Diz que foi uma espécie de Reveillon 1984-85



"Os Gatos mereciam não apenas um, mas uma catrefada jeitosa de prémios: primeiro, porque aguentaram heroicamente e sem sobressaltos o primeiro grande directo da vida deles (e que directo, tão avassaladoramente cheio de coisas que podiam ter corrido mal). E se já é difícil fazer um directo sério, imagine-se o que é fazer um directo de humor - e eles comportaram-se como se toda a vida tivessem feito aquele tipo de coisa. Foi um espectáculo alucinante feito de contradições vencedoras: tinha todo o tal setup gigantesco, épico, e, ao mesmo tempo, uma abordagem intimista onde o tom "como diacho é que viemos aqui parar" dos Gatos resultou em cheio; adorei a versão portuguesa de What Would Brian Boitano Do, de South Park, aplicado à recusa deles em fazer um programa com cantigas e danças; tinha um desfile muito retro de artistas mas, ao mesmo tempo, algo de hiper-moderno e subversivo na maneira como esse desfile foi enquadrado (a ideia de que, não estando à altura de passar o ano de 2007 para 2008, seria melhor jogarem pelo seguro e treinarem com uma passagem de ano já usada - a de 1984 para 1985, gag que foi heroicamente mantido até mesmo na contagem decrescente). E conseguiram, de repente, que Da Vinci e Sabrina se tornassem bizarramente cool (o momento de Sabrina foi uma delícia surreal, uma fusão entre programa de entretenimento da RAI e o espírito Conan O'Brien, com o sketch em que os Gato se tornam homens a ver o video de Boys Boys Boys a meio de um episódio da Abelha Maia).

No fim, o grupo ainda poupou trabalho aos detractores com aquele maravilhoso número final de gospel em que o coro lista, com grande euforia e arrebatamento e ao som de Oh Happy Day, tudo aquilo que de certeza haverá quem vá dizer hoje: que aquele fim-de-ano foi "uma grande merda", "fraquinho", que "eles são tão sobrevalorizados", etc. A verdade é que foi mais um triunfo da comédia alternativa e inteligente na televisão nacional, enquanto que, por exemplo, na TVI, decorriam... casamentos. A sério, casamentos. Passei por lá a dada altura e estava um senhor a casar pessoas. O que, vistas bem as coisas, acaba por ser comédia bastante alternativa. Involuntária, sim - mas bastante alternativa.

Boas férias, Cardi, Mucky, Nandy e Fininho!"

Nuno Markl, in Há Vida em Markl

Nota do Autor do Blogue:
Vamos ter mesmo saudades deles, acreditem! Não é fácil à RTP1 ter 34,2% de share numa noite em que o confronto se fazia entre "Um Casamento de Sonho" e "Família Superstar". A RTP ficou mesmo em segundo lugar - atrás da TVI e ligeiramente à frente da SIC - nas audiências globais de 2007, conseguindo o seu melhor resultado desde 1999.

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