sexta-feira, dezembro 10, 2010

Cinemacção

Jogo Limpo ***



Valerie Plane (Naomi Watts), uma agente secreta da CIA, comanda uma investigação sobre a presença de armas de destruição maciça no Iraque. O seu marido, o diplomata Joe Wilson (Sean Penn), é levado para o interior da investigação numa tentativa de comprovar que Saddam Hussein comprava, a Níger, urânio para fins militares, algo que se veio a comprovar falso. Quando a Administração Bush ignora a sua investigação e entra em guerra, invadindo o Iraque, o diplomata escreve um artigo no "New York Times", em que acusa o governo de má-fé. Pouco depois, e como consequência dos actos do seu marido, a identidade de Valerie como agente secreta é revelada, ficando com toda a sua vida desacreditada. Assim, de um momento para o outro, uma mulher que tinha uma vida estável, perde toda a credibilidade. É este o mote para "Fair Game" ("Jogo Limpo"), o único filme norte-americano na competição pela Palma de Ouro no festival de Cannes deste ano.

E tal facto não surge por acaso. Este delicioso thriller político realizado por Doug Liman (que conhecemos de filmes como "Identidade Desconhecida", "Mr. & Mrs. Smith", "Jumper") impressiona sobretudo pelo seu lado humano, pela sua componente dramática, mas também pelas fabulosas e irrepreensíveis interpretações de Naomi Watts e Sean Penn, esta última particularmente genial na (re)criação de uma personagem complexa, sobretudo se pensarmos que lhe cabe a árdua missão de substituir a falada Nicole Kidman, “substituição” que em nada desilude, muito pelo contrário.

Uma história verídica muito bem transposta para o cinema (de uma forma algo inesperada) por um realizador como Doug Liman, que nos faz recuar até aos períodos conturbados de 2003 e coloca – com uma particular perspicácia – o dedo na ferida da política externa norte-americana nos tempos da administração Bush. Longe de ser tratar de um filme brilhante, trata-se de uma obra muito bem conseguida em termos cinematográficos, quer pela qualidade das interpretações quer pela notável forma como o enredo se encontra construído do primeiro ao último minuto. Cada personagem é brilhantemente trabalhada, cada sequência dramática do filme é freneticamente empolgante. Provavelmente, um dos melhores filmes do ano em termos de interpretação, afinal de contas aquilo que a sétima arte tem de mais valioso.

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