segunda-feira, dezembro 14, 2009

Palavras

As Passagens Secretas

A navegabilidade é o ofício das mãos, embarcamos em ti,
germinas
e o mel progride pelas sombras do quarto, a roupa nua, o fogo
circular
que principia nas nucas –

argila, brisa, pálpebras que soluçam, cortam a neblina, gastam
a angústia até ao último centavo, a frescura dos lenços, o aroma
dos pássaros vermelhos, os pátios e as algas que nos pedem
auxílio desde a areia,

vê:

acenam-nos desesperadamente com refúgios.

Corremos pela praia com a nossa nudez porque deixamos algures
os mantimentos escassos de que a nossa tristeza se mantém.

Corremos pela praia e as mãos deslizam para um cobertor lavado
pelo mar,
o oiro magnífico, a distância
mais curta entre dois pontos. É noite,

e corremos porque o tacto é uma promessa, casam-se os búzios,
conchas
azuis habitam o olhar, barcos,

homens que bebem a água como se fosse terra, pequeninas
sementes,
dissumulam a sede a que deus nos condena.

Amadeu Baptista, "Fragmentos".

Sem comentários: