sexta-feira, junho 26, 2009

Palavras

Adorno.

Adjectivando,
ele contornava a realidade a vermelho
Em circunferências magistrais.
Como se o advérbio
para esse fim
não bastasse.

Era um esteta da verossimilhança banal,
que, da circunscrição do adorno
erigia uma retórica obsessional,
de interesse circunscrito,
uma filosofia do ornamento
eminentemente pessoal.

Quando ele traçava a perna,
as palavras, mesmo se soezes,
travestiam-se - há muito -
de restícios de verdade instantânea.

Ele lia
quando ela chegou.
Coisas de contabilidade, dizia
e estatística
corpo de ciência de que se faz o estado.
Era importante, esse dia.

Havia ganho
o prémio da mediocridade, feito de quem lambe as botas certas.
Não era surpresa, contudo
Desde pequeno que ouvia elogios
da sua língua -
prodígio de musculatura faladora.

Gravava verdades em caminho obscuro
sem traçado, ou parcamente indicado.
Para estar sempre à altura do que acontecia.

Naquele dia,
era pessoa de circular felicidade:
Coreógrafo da banalidade,
Premiado esteta do adorno,
finalista que dominava contabilidade -
estava pronto, enfim,
para ganhar eleições
numa qualquer edilidade.

Como sempre, genial. em http://starjamming.blogspot.com/

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