segunda-feira, janeiro 08, 2007

Cinemacção

2006 Filmes

É incontornável falar de cinema em 2006 sem referir um conjunto de obras que marcaram indubitavelmente o ano ao nível da Sétima Arte.
Correndo o sério risco de se afirmar como a obra-prima do ano (esperemos que justamente premiada na cerimónia dos Óscares em 2007), Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos (a mui infeliz tradução para Little Miss Sunshine), de Jonathan Dayton e Valerie Faris, é uma comédia deliciosamente frenética, brilhantemente escrita, excelentemente realizada e com um fabuloso elenco, encabeçado por Greg Kinnear e Toni Collette. Com filmes destes, vale a pena ir ao cinema.
Um homem pai de família transforma-se em herói quase acidental, numa sátira às relações familiares, ao ambiente da máfia e à própria dicotomia mal-bem. Uma História de Violência (A History of Violence) é o filme que marca o regresso de David Cronenberg em 2006, depois de filmes como eXistenZ e Spider. É, em nossa opinião, o seu melhor filme, uma obra deliciosamente violenta e cruelmente irónica, que combina o talento do realizador com as brilhantes interpretações de Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris e William Hurt.
Match Point é, indiscutivelmente, um dos filmes do ano e um dos melhores do aclamado realizador Woody Allen. É a história brilhantemente contada de um jovem, da sua ascensão na sociedade e das terríveis consequências da sua ambição. Para além do brilhante argumento, consubstanciado numa história envolvente do primeiro ao último minuto, Match Point conta ainda com as interpretações majestáticas de Scarlett Johansson e Jonathan Rhys Meyers.
2006 ficará ainda inevitavelmente marcado pelo regresso do agente secreto 007 ao grande ecrã, desta vez no corpo do não consensual Daniel Craig. De Martin Campbell (o mesmo de Goldeneye), Casino Royale, a 21.ª película sobre o agente ao serviço de sua magestade é, em nossa opinião (e trata-se de uma opinião muito suspeita, uma vez que não parte de um admirador da saga, muito pelo contrário), o melhor filme 007 da chamada “era moderna”. A interpretação excelente de Daniel Craig, as arrebatadoras bond-girls Caterina Murino e Eva Green e o fantástico argumento que envolve a película tornam Casino Royale num filme frenético e muito bem conseguido dentro do género. A saga James Bond tem um novo fã.
E o que dizer do polémico O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain)? Estará tudo dito? Se assim é, resta-me elencá-lo como um dos melhores do ano - se não mesmo o melhor – e render-me ao estilo muito próprio (diria mesmo mágico) de Ang Lee (vencedor do Óscar para Melhor Realização) e aos brilhantes desempenhos de Heath Ledger (nomeado para Melhor Actor Principal), Jake Gyllenhaal (nomeado para Melhor Actor Secundário) e Michelle Williams (nomeada para Melhor Actriz Secundária e, na nossa opinião, uma das melhores interpretações femininas dos últimos tempos, num filme todo ele masculino e masculinizado).
Já que estamos a falar em Óscares, era impossível fazer uma crónica sobre cinema em 2006 sem referir as excelentes interpretações de Philip Seymour Hoffman, em Capote, distinguido na última cerimónia de entrega dos prémios da Academia com o Óscar de Melhor Actor Principal pelo assombroso papel do escritor homossexual Truman Capote, e de Reese Witherspoon (para a história, fica a sua deliciosa expressão “Baby, baby, baby...”), que recebeu a estatueta de Melhor Actriz Principal, pela interpretação da cantora country June Carter Cash no filme Walk the Line. Nomeado em seis categorias, o filme Colisão (Crash), de um realismo impressionante centrado nos problemas raciais de Los Angeles, obteve surpreendentemente (ou talvez não) a estatueta de Melhor Filme, a que juntou as de Melhor Argumento Original e Melhor Montagem.
2006 foi ainda o ano de O Código Da Vinci (The Da Vinci Code). Baseado no romance homónimo de Dan Brown, o filme de Ron Howard, com lançamento mundial a 19 de Maio, foi o sucesso de bilheteira do ano. O mesmo sucesso não pode ser atribuído à sua apreciação crítica. Fiel à obra que lhe serviu de argumento (se calhar demasiado fiel), O Código Da Vinci deixa muito a desejar em termos cinematográficos, sendo, para todos os efeitos, a desilusão do ano.
Uma nota final para lamentar o facto de, por razões óbvias, não ter assistido a todos os filmes estreados nas salas nacionais ao longo do ano, pelo que a selecção apresentada é naturalmente fundada em critérios subjectivos. No grupo dos filmes de 2006 que não tiveram oportunidade de ser vistos inclui-se um que suscita particular interesse e que está, por isso, na lista daqueles a ver o mais rapidamente possível. Falo do filme que recebeu mais nomeações para os Globos de Ouro de 2007, Babel, a multinarrativa dramática que irá completar a "trilogia da morte" do realizador Alejandro González Iñárritu, que inclui Amores Perros e 21 Grams. Um outro que incluo nesse grupo é O Terceiro Passo (The Prestige), o último filme de Christopher Nolan, realizador de obras como Memento, Insomnia e Batman Begins.
Num ano particularmente fértil em pequenas (grandes) pérolas cinematográficas, onde poderíamos ainda incluir obras como Good Night and Good Luck (de George Clooney), Memórias de uma Gueixa (de Rob Marshall), BORAT - Aprender Cultura da América para Fazer Benefício Glorioso à Nação do Cazaquistão (de Larry Charles), A Senhora da Água (de M. Night Shyamalan) ou Volver (de Pedro Almodóvar), fica a enorme expectativa para a Cerimónia dos Óscares, marcada este ano para o dia 25 de Fevereiro. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood revela os nomeados já no dia 23 de Janeiro. Até lá, boas sessões de cinema e, parafraseando Lauro Dérmio, o imortal personagem de Herman José, “always watch good moves”...

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