segunda-feira, maio 28, 2007

Ambiguidades

Porque o mundo é feito de ironias…

My Love, Justin Timberlake.
Ironicamente, ser esta a música que ecoava nas colunas do extinto C3.
Ironicamente, estar cheio de fome e sede e passar horas sem comer ou beber o que quer que seja.
Ironicamente, terem acabado de insistir para não fazer aquele desvio no percurso.
Ironicamente, ter comentado no dia anterior como podia o carro estar intacto, tal a qualidade da minha condução.
Ironicamente, há muito desejar mudar de corte de cabelo.
Ironicamente, ter adquirido aquele telemóvel há cerca de um mês, que estava condenado a não funcionar em pleno.
Ironicamente, quase ter um acidente minutos antes contra uma ambulância.
Ironicamente, estar a caminho de um almoço prometido há séculos e adiado vezes sem conta só para eu poder estar presente.
Ironicamente, ter levado calções para um passeio pedestre com um percurso acidentado e acabar com um enorme corte no joelho.
Ironicamente, ter vivido, até aquele momento, um dos fins-de-semana mais divertidos da minha vida.
Ironicamente, ter tudo planeado para uma grande Queima das Fitas e acabar mesmo por lá estar, em Coimbra, do lado certo do rio, a poucos quilómetros do Parque.
Ironicamente, ser hemofílico e quase me ter esvaído em sangue.

Era quase noite. Porque hoje é um inspirado dia…

Acordar em Sesimbra tendo o mar como pano de fundo.
Actuar para uma plateia rendida pela In Vino Veritas.
Apreciar criticamente um filme candidato ao Oscar.
Assistir a um concerto dos Xutos na Festa do Avante.
Beber uma taça de traçadinho, acompanhado por uma bifana cheia de óleo e mais uma cantiguinha, no extinto Pratas.
Cantar uma serenata a uma donzela apaixonada pelas ruas calcetadas da Lusa Atenas.
Clamar Aleluia em cada missa no Figueiredo.
Comer pataniscas de bacalhau acompanhadas com arroz de feijão num restaurante do Bairro Alto.
Compartilhar angústias até às quatro da matina tentando perceber alguma coisa de Contabilidade.
Comprar o Expresso e tê-lo como companhia no Forninho do Pinhal ao sábado de manhã.
Comprazer-me com um gelado numa esplanada no pico do Verão.
Concretizar o impensável num jantar do auto-denominado Clube da Pila ®.
Conhecer a magia natural de um sítio como o Penedo Furado ou a Tapada de Mafra.
Conquistar uma vitória profissional.
Correr no Choupal como se não existisse amanhã.
Deambular por Paço de Arcos em busca do local do casting da Mega FM.
Degustar um vinho de colheita seleccionada na Herdade do Esporão.
Deleitar-me com uma ginjinha em Óbidos.
Deliciar-me com um pica-pau ou umas moelas descontraidamente no Sôr Abílio, em Taveiro.
Desafiar a gravidade nas dunas de Pipa.
Descobrir as discotecas africanas da capital.
Discutir intensamente um tema da actualidade na varanda com vista para a Sertã.
Divertir-me à grande num fim-de-semana em Peniche.
Dormir até tarde num dia de chuva.
Ecoar cada golo num derby na Catedral.
Encontrar uma mesa posta à beira-mar.
Fazer uma pausa para chá no local de trabalho.
Fugir à rotina dos dias com um bem regado e farto jantar lá para os lados de Pombal.
Fumar um cigarro e beber um cálice de Chardonnay no terraço do Lux.
Gritar Bingo! ao lado daqueles que amo.
Imitar Marco Paulo num qualquer bar com karaoke.
Ir até à Praia da Vieira de propósito numa noite de Verão só para comer um gelado na melhor das companhias.
Jogar uma cartada, uma matraquilhada ou um simples jogo de PC.
Ler apaixonadamente a última obra de Gabriel Garcia Marquez.
Marcar um encontro no Cartola ou no TAGV.
Obrigar nove pessoas a dormir amontoadamente no chão alcatifado da minha sala.
Ouvir deliciado o novo álbum dos Coldplay.
Parar no Pastor a caminho de Coimbra e saborear uma gigantesca nata.
Partilhar dois dedos de conversa nas mesas azuis da Faculdade.
Passar uma tarde em família na pesca ou em passeio.
Perder-me nos corais de Porto de Galinhas.
Regalar corpo e mente com um incomparável pastel em Belém.
Saborear o melhor rodízio do mundo ao som de Tibinha Aragão.
Sentar-me no maior cajueiro do mundo.
Sentir o mar tendo o Festival de Marisco da Ericeira como pano de fundo.
Ser praxado e baptizado de Cornetim no primeiro dia de Faculdade.
Ser presenteado com um capuccino quente diário na cama de um hospital.
Ser recebido com um sorriso rasgado no fim de um extenuante dia de aulas.
Subir ao Picoto Raínho à luz da lua ou, em alternativa, numa tórrida tarde de Agosto.
Suspirar rendido a um fantástico rodízio de peixe na Doca de Setúbal.
Transformar uma noite da Queima numa homenagem ao Paulinho.
Trautear fado de Coimbra no Diligência.
Usar a compra de uma cadeira no IKEA como pretexto para viver um dia fantástico na capital.
Vibrar com uma vitória política, desportiva ou simplesmente pessoal.
Virar os ponteiros do relógio na passagem de ano na Tocha tendo ao lado a melhor companhia.

Porque vale a pena acreditar na felicidade…

Na impossibilidade de o fazer pessoalmente junto de todos aqueles que povoam os meus dias de alegria, servem estas palavras para agradecer o incomensurável apoio dos últimos tempos. Sem vocês desse lado, seria seguramente mais difícil. O meu sentido obrigado.

Porque tudo nos faz crescer…

quinta-feira, maio 24, 2007

Puro Relax...

quinta-feira, maio 17, 2007

Palavras de Vida Eterna

Quem me leva os meus fantasmas

Aquele era o tempo em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acessos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos em sonhos gigantes
E a cidade vazia da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto

Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
Quem me diz onde é a estrada

Aquele era o tempo em que as sombras se abriam
Em que homens negavam o que outros erguiam
Eu bebia da vida em goles pequenos
Tropeçava no riso abraçava venenos
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala nem a falha no muro
E alguém me gritava com voz de profeta
Que o caminho se faz entre o alvo e a seta

De que serve ter o mapa se o fim está traçado
De que serve até à vista se o barco está parado
De que serve ter a chave se a porta está aberta
De que servem as palavras se a casa está deserta

Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
Quem me diz onde é a estrada

Pedro Abrunhosa